sábado, 22 de setembro de 2007

| cotidiano | Sexta-feira

Nesse meu caminho atual, tenho deixado as sextas se tornarem meu dia de efetivo descanso, mental e físico.

Logo pelas manhãs, tenho participado de um excelente curso introdutório ao design. Bacanas, as aulas abrem alguns horizontes e me confirmam, academicamente, pensamentos que eu havia formulado por puro sentimento. Cresce a vontade de trabalhar na área, e a certeza de que não dá pra ser designer apenas com "feeling": é preciso teoria, é importante conhecer regras, especialmente quando se imagina querendo subvertê-las. E esses pensamentos povoam essa primeira parte das minhas últimas sextas.

Depois a aula, tenho me dado a chance de fazer algo que gosto muito, que é sair derivando pela cidade. Deriva é um processo de identificação de um lugar, usado em muitos projetos de arquitetura, mas que na verdade tenho usado mesmo é pra me divertir: pode ser resumido como "seguir o fluxo". É simplesmente fazer o que der na telha, andar sem rumo definido, pelo prazer de andar e prestar mais atenção por onde se anda. Em arquitetura ( e sociologia, antropologia, artes plásticas...), é usada pra tentar levar em consideração aspectos psicológicos no projetar; tentar entender o porquê de ter virado à esquerda ao invés da direita, por exemplo, e usar isso no projeto.

Na de uma semana dessas, fui pegando um ônibus qualquer e descendo em um ponto qualquer, arbitrando um caminho e modificando mais na frente. Bati papo com uns senhores na ladeira da preguiça, uns pivetes numa praça que tentaram me ensinar malabares, vendedores de dvd que não liberaram de jeito nenhum a informação de onde eles conseguem os filmes. Nem dá pra deixar de falar sobre a chuva que tomei naquele dia: como na maioria das vezes, nem me importei, e até gostei dela, que chegou sem aviso, arrebatadora. Mas o sensacional foi uma senhora, bem velhinha, que me ofereceu abrigo em um guarda chuva com as pontas quebradas. Mesmo já ensopado, aceitei.

Em outra, conheci São Marcos, o bairro, e um bar sensacional que tinha no cardápio um rodízio que vendia de comida baiana a pizza, passando por churrasquinho, feijoadas de três feijões diferentes e tabule. O dono, Hélio, um senhor de seus cinquenta e poucos anos, disse que fez isso porque já morou em todos os estados, já comeu daquilo tudo, mas o que gosta mesmo é de viver em Salvador, onde nasceu.

Ontem, mais light, andei pelo campus de ondina da UFBa. Parei na biblioteca central e fiquei folheando uns livros, mas sem muito afinco. Fui na livraria da EdufBa ver se tinha alguma coisa boa pra comprar, já que ainda tenho uns descontos por ser aluno. Acabei conhecendo a livreira mais figura que já vi, com quem fiquei jogando conversa fora e falando bobagens a tarde inteira. Ela me mostrou livros interessantes, passagens que ela gostava e um livro especial que será assunto de um próximo post. Acabei indo com ela e o namorado, outro doido, a uma sessão da "Sexta Cultural" na faculdade de ADM, assistindo o brasileiro "Cronicamente inviável". Ainda fui num lançamento de um curta, "Terezinha", que cheguei atrasadão e não assisti. O diretor me prometeu uma cópia em dvd, antes que chegue nos camelôs. Apesar de eu não duvidar de escutar "Tropa de Elite e Tropa de Elite 2, três reais...Xereck 3também. Já tenho Terezinha,já tenho Terezinha, Terezinha só comigo, dois reais..." nas ruas qualquer hora dessa.

Essa tem sido minha higiene mental, e recomendo. É muito melhor quando se registra, desenhando ou fotografando, mas não lembrei disso. É uma pena, por exemplo, eu nem ter idéia de como chegar novamente no Bar do Hélio, a não ser que passe por perto novamente. Numa próxima, quem sabe eu registre melhor, ou pelo menos escreva no dia em que fizer. Essa sensação, não de turista, mas de observador, explorador, é muito bacana. Especialmente numa cidade completamente heterogênea como Salvador, que na esquina seguinte pode estar a maior figura que já se teve notícia.

Claro, essa é uma diversão de arquiteto. Pra mim, essa é a melhor e mais completa forma de entender uma cidade: conhecer suas pessoas, andar em suas ruas, olhar os prédios e como todos esses elementos se relacionam, sentar num banco de praça e observar, assimilando a paisagem e guardando essas referências. Digo novamente, recomendo.

3 comentários:

Alice disse...

Alice:
=)
=)
=)

Léo:
=)
=)
=)

Unknown disse...

E ele descansou no sexto(sexta , han han, pegou o trocadilho?)dia ...hehe...

Quero ir no boca de galinha e o mesmo merece ter um post no seu blog, Sr. Alessandro.

Conseguiu dar uma visitada no blog de Medina?
Cada vez qe entro aqui fico mais empolgada em recomeçar o meu. vou resistindo enquanto posso,hehe.

Você conheceu São Marcos ... há muitas eras glaciais eu morei ali naquelas "quebradas"... Ai que sadade do pão do Paes Mendonça do Pau da Lima.

E não se esqueça, meu jovem, camarão que dorme...

Unknown disse...

Andar sem rumo deve ser bem prazeroso ... vou me dar o prazer de tal experiência um dia...vou me soltar das minhas correntes de medos, preconceitos e pele de porcelana e conhecer a grande Salvador...

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